13 de ago. de 2009

Minha Princesa...


"Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."


(Clarice Lispector)


Medo, medo e medo!! Sensação de perda e de vitória ao mesmo tempo. Frio enorme na bariga por insegurança, medo mesmo... das mudanças, do crescimento e dos conflitos...
Eu tinha certeza que este momento chegaria, eu estava inclusive me preparando para ele, então por que motivo me pergunto a todo segundo se realmente a hora chegou?

Todo aquele discurso carregado de coerência e boas intenções, de razão e argumentos lógicos, era tudo da boca para fora? Não! Tenho certeza que não era..Mas então porquê dói tanto? Mas isto é dor? É tristeza? É apego? É proteção? Ou seria excesso de proteção?

Não...Eu não vou gritar, xingar, berrar... Mas eu posso me permitir a dor, ah.. eu posso sim!

Afinal, por pouco que tenha caminhado, sei quanto custou cada passo dado e não vou me permitir um retrocesso... Mas omitir a dor, não fará com que ela diminuia, não fará que ela desapareça...
Então a vida passa num flash back diante dos meus olhos e é inevitável não reviver cada alegria, cada preocupação, cada momento único...

Ela foi um presente... um divisor de águas em minha existência..

Fez com que eu descobrisse em mim um outro "eu", abrisse mão de toda loucura, toda insensatez
todo desvario de uma quase "juventude perdida"...

Eu me agarrei aquele ser tão pequeno como um naufrágo se agarraria a uma tábua que seria a sua salvação...

Eu não sabia nada, comecei exatamente do zero... Quase enlouqueci, tamanha a minha inexperiência diante daquele ser tão indefeso! (Mas que berrava o tempo inteiro!)

Ela foi a primeira e com ela aprendi a ser mais do que já havia sido até aquele momento, por ela e por causa dela aprendi o que era o medo, medo de perder, de ficar sozinha, de não saber, de não dar conta, de não ser capaz...

Mas foi ela que me ensinou também o que é o amor, puro, profundo e desinteressado....

Foi por ela que dei valor a cada noite de sono, que antes perdia por nada e que agora pareciam tão sagradas....

Tudo se transformou em mim, desde o momento em que ela chegou em minha vida... E confesso foi para melhor, muito melhor!
Agora é preciso coragem, muita coragem para afastar a minha covardia que insiste em querer negar que não posso mais tapar meus olhos e fingir que ainda tenho o controle...eu não tenho!

Eu não posso impedi-la de encontrar as alegrias e as dores, não posso impedi-la de viver e crescer, de sorrir, se encantar, se magoar e infelizmente não posso impedi-la de se decepcionar...

Sempre procurei não projetar em ninguém minhas expectivas, não seria justo deixar que minhas frustações a impedissem de experimentar....

Mas dói... mas incomoda e muda tudo dentro de mim.... pois estou perdendo aquela criança que tanta alegria me trouxe, que não vai mais querer meu colo, não vai mais precisar tanto de mim...

Mas por outro lado, estou ganhando uma amiga, uma companheira de todas as horas, uma cumplice em todos os meus dilemas...Fico feliz por ter conseguido conquistar também a sua confiança...

Filha, eu só queria dizer que apesar das minhas neuroses, da minha vontade de te proteger de tudo e de todos, EU TE AMO demais e não vou jamais querer amarrar ou cortar suas asas...antes pelo contrário, quero servir de apoio para que você voe cada vez mais alto, cada vez mais longe...

E acima de tudo quero que seja muito feliz!!

Que risco sagrado do acaso nos faça amadurecer juntas... E que o medo do desconhecido não nos impeça de voar!!!

Cintia

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